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Livro Michael Jackson Conspiracy, Capítulo 33 " Moonwalk"


“Moonwalk”




Depois do comparecimento de Chris Tucker, a defesa encerrou o caso deles. Quando Mesereau sentou atrás da mesa da defesa, ele pôde ver o sangue fugindo da face de Sneddon. Sneddon tinha pedido para mostrar a gravação da entrevista policial de Gavin e o juiz garantiu o efeito direto da tréplica do Estado. Sneddon e o time dele tinham esperado por meses, certos de que a entrevista policial de Gavin Arvizo provaria ser o grande dia de testemunho no julgamento. Para a promotoria, o momento mais crítico deles tinha chegado.
Nos bastidores, Tom Mesereau tinha arguido que a entrevista policial era um inadmissível boato, mas o juiz Melville decidiu que o júri poder examiná-la, não como evidência, mas para mostrar o comportamento de Gavin. Com isso, Mesereau requereu que a família Arvizo fosse levada de volta a Santa Maria. Mesereau insistiu que os Arvizos estivessem presentes para ser questionados na tréplica, uma opção que a defesa raramente reclama.
Tom Sneddon exultou, quando ele mostrou aos jurados a entrevista policial e as pessoas assistiram atenciosamente, enquanto o menino dava uma sequência cronológica do tempo que ele passou com Jackson. As pessoas estavam simpáticas enquanto elas assistiam Gavin falar sobre o câncer dele. Gavin disse que ele ficou pela primeira vez no quarto de Michael, quando ele não tinha cabelo na cabeça. Gavin parecia fascinado por Jackson e disse aos detetives que durante anos ele tentou manter contato com o pop star, mas Jackson sempre tinha novos números de telefone e era difícil de ser encontrado. Gavin se lembrou de que uma vez visitou Jackson no Universal Hilton, em Burbank, tendo sido levado lá, pelos pais dele, quando ele ainda estava recebendo tratamento contra o câncer.
Em setembro de 2002, Gavin disse que ele recebeu uma ligação de Jackson, pedindo a ele que viesse para Neverland para gravar um vídeo sobre o câncer dele ter sido curado. Depois da entrevista com Bashir ir ao ar, Gavin disse que ele ficou chateado por ver o nome dele nos noticiários. A CNN mencionou o nome dele muitas vezes e Gavin alegou que ele foi solicitado a voar para Miami para fazer uma coletiva de imprensa com Jackson. Gavin disse aos detetives que ele ficou bêbado em Miami, que Jackson tinha dado vinho a ele, então ele poderia “relaxar”.
Para grande desgosto dos jurados, Gavin foi vago, quanto aos detalhes dos alegados atos de assédio que ele disse que aconteceram “quatro ou cinco vezes”. O menino estava sendo evasivo.  Enquanto os jurados observavam Gavin alegar que ele tinha sido inapropriadamente tocado pelo senhor Jackson, alguns deles tinham expressões confusas nos rostos deles. Muitas das coisas que ele disse parecia orquestradas. O garoto parecia estar escolhendo as palavras dele, quase interpretando. Contudo, era difícil dizer o quanto Gavin estava sendo manipulado pela polícia.
“Gavin, amiguinho, você tem sido realmente corajoso”, um oficial disse a ele.
“Gavin, nós queremos que você faça isto. Você está fazendo a coisa certa”, o oficial encorajou.
O aluno de oitava série disse ao policial que ele tinha bebido álcool em Neverland, frequentemente, insistindo que, depois que ele voltou de Miami, ele tinha bebido vinho ou licor com Jackson todos os dias. Ainda, Gavin alegou que Jackson lambeu o cabelo dele no voo de Miami para Santa Bárbara, algo que ele nunca mencionou enquanto estava no banco de testemunhas.
Gavin disse aos detetives que “tudo aconteceu depois de Miami”, mas ele não tinha um lampejo de tremor na voz dele enquanto ele falava. Gavin, sem expressão, disse que ele nunca viu as partes íntimas de Jackson, que ele não tinha certeza sobre o que aconteceu durante os alegados atos sexuais e que ele não tinha certeza do que era uma ejaculação. Algumas pessoas se perguntavam como um garoto de treze anos poderia não ter certeza de algo assim.
No entanto, a mainstream mídia pensou que a gravação policial era impactante. Eles correram para as tendas de notícias para relatar as alegações do acusador, neste momento, escolhendo as palavras dele cuidadosamente. Depois de assistir a gravação policial a mainstream mídia sentiu que os conservadores jurados de Santa Maria condenariam Jackson. Algumas pessoas reportaram que o time de defesa de Jackson estava afundado.
Quando o estado acabou de apresentar o caso deles, a família Arvizo já tinha chegado a Santa Maria. Eles estavam sendo apresentados em uma casa secreta e pessoas de dentro souberam que os Arvizos tinham sido preparados pela promotoria na noite anterior e estavam prontos para se dirigir ao júri, novamente.
O pessoal da mídia estava ansioso por escutar Mesereau questionando os Arvizos pela última vez. As pessoas estavam se provocando, dizendo como eles pareciam ansiosos por escutar mais uma versão do “Arvizo show”. Mas no último minuto, a defesa mudou de ideia. Quando Sneddon terminou a tréplica dele, encerrando o caso contra Michael Jackson, Tom Mesereau anunciou, “A defesa encerrou.”
Com estas palavras, Tom Sneddon ficou branco. O promotor parecia estupefato e encarou o juiz Melville. Parecia que o homem estava tentando, com dificuldade, compor-se. Sneddon não podia acreditar que Mesereau tinha desistido dos Arvizos. Mesereau tinha aplicado o soco final dele na promotoria.
O promotor estava devastado por ter perdido a oportunidade de interrogar a família Arvizo novamente. A promotoria precisava mudar a percepção sobre os Arvizos e o promotor poderia ter feito isto, permitindo aos Arvizos que explicassem novamente as coisas, por ter os Arvizos preenchendo as lacunas e buracos no testemunho anterior deles. Se Sneddon pudesse transformar os Arvizos em testemunhas credíveis, ele parecia pensar que ele conseguiria algum veredito de culpado, fosse de conspiração, por servir álcool a um menor, ou por atos lascivos.
Mesmo sem os Arvizos, era claro que o promotor Sneddon e o time dele sentiam que o júri condenaria Jackson por alguma acusação. Eles estavam ansiosos por ver Jackson passar um tempo na prisão e eles tiveram uma particular celebração de vitória dias antes do veredito. Sneddon sabia que se ele vencesse o julgamento, ele e o time dele seriam conhecidos no mundo inteiro. Todos eles se tornariam instantaneamente famosos.

Durante os argumentos finais, apresentados primeiramente pela promotoria e depois pelo time de defesa e, novamente, pela promotoria, a mídia estava ocupada se preocupando com posições sobre os vereditos, tentando predeterminar quanto tempo o júri a iria deliberar. Havia específicos lugares estabelecidos para as “análises” dos argumentos finais. O coordenador da mídia, Peter Shaplen, queria evitar o tumulto da mídia, como evidenciado no veredito de Marta Stewart, e ele estava lidando com centenas de pessoas da imprensa que estavam competindo pelos limites dos assentos da mídia no tribunal. Mesmo na sala de escuta, com o fechado circuito de TV, estava ficando lotado e não tinha espaço para permitir que todos os cabos, jornais, rádios e estações de TV transmitissem o roll de acusações.
Enquanto os jurados deliberavam, o pessoal da mídia ficou frenético. Eles não estavam realmente preocupados com Jackson, eles estavam preocupados com o estrondo e com as filmagens. A mídia tinha que lidar com segurança reforçada, o que incluía a polícia de Santa Maria, os xerifes de Santa Bárbara, a Força de Campo Móvel de Santa Bárbara, o time da SWAT, e cães farejadores. Para os vereditos, segurança adicional foi fornecida por caminhões e engrenagens do lado de fora das baias da mídia, tudo o que pareciam mais complicações para jornalistas e produtores cansados.
Havia muitas régras a seguir, havia muito trabalho para a mídia pegar qualquer coisa próxima ao tribunal, as pessoas estavam alteradas. Havia muitas instruções específicas sobre “credenciais” e todos os membros da mídia tinham que mostrar credenciais oficiais do tribunal, uma regra que era reforçada pelos oficiais o tempo todo.
 Todo o pessoal da mídia foi sujeitado à revista por armas e dispositivos de gravação e a tensão estava alta. Nenhum membro da mídia tinha permissão para ultrapassar os trilhos que separavam a galeria do tribunal, da área de litígio, portanto não havia chance de se aproximar de Jackson ou nenhuma dos personagens principais. A lista de procedimentos e regulamentos era surpreendente e as régras tinham tirado os nervos de todo mudo.
Quando a mídia soube que o juiz Melville tinha dedicado dois dias para as instruções do júri, as pessoas fizeram ansiosas súplicas para que fossem permitidas câmeras no tribunal para transmitir o veredito, ao vivo. No momento mais importante, quatro equipes de câmeras foram colocadas no caminho do tribunal, cinquenta e duas câmeras posicionadas estavam mapeadas para a audiência da TV, e cinquenta câmeras em posição imóvel estavam alocadas em faixas, dando à mídia que tinha pagado por um “Taxa de Impacto Municipal”, pelo privilégio de cobri o julgamento. Havia preparativos para uma conferencia de notícias do júri, da promotoria e conferências de notícias da defesa, de um helicóptero e da prisão. Se aplicada.
No dia em que o juiz Melville leu para o júri um complexo de instruções estabelecidas, Melville releu as específicas acusações contra Jackson, explicando as específicas leis que deviam ser seguidas. O juiz Melville disse aos jurados que eles poderiam considerar alegados atos anteriores apenas se eles tendessem “a mostrar intenção” da parte de Jackson, em relação a crimes com os quais Jackson estava sendo atualmente acusado.
Jackson poderia receber sentenças concomitantes e especialistas legais estavam prevendo que, se o pop star de quarenta e seis anos fosse condenado por todas as alegações, Jackson estaria enfrentando uma possível sentença de prisão de dezoito anos e oito meses. Isso era sério e, dependo das circunstancias agravantes, o montante total do tempo de Michael Jackson estaria enfrentando atrás das grades poderia ser igual a uma sentença de morte, somando cinquenta e seis anos. Para os telespectadores, os especialistas de TV descreviam as exatas acusações que Jackson estava enfrentando, a sentença que cada acusação carregava:
Acusação Um: Conspiração envolvendo sequestro de criança, cárcere privado e extorsão. A acusação carregava uma sentença mínima de dois anos, uma máxima de quatro anos e multa de 10 mil dólares.
Acusação Dois a Cinco: Ato lascivo com uma criança abaixo da idade de quatorze anos. Cada acusação era punível com uma obrigatória sentença de prisão de três a oito anos.
Acusação Seis: Tentativa de ter uma criança abaixo dos quatorze anos de idade cometendo atos lascivos com o senhor Jackson. A acusação apresentava uma sentença de prisão de três a oito anos.
Acusação Sete a Dez: Administração de um agente intoxicante, álcool, para ajudar na prática de atos lascivos com uma criança. Cada acusação apresentava uma sentença de prisão de dezesseis meses a três anos de prisão.
Os especialistas da TV explicaram que o juiz Melville também deu aos jurados a opção, em relação às últimas acusações criminais, de condenar Jackson de quatro infrações menos graves, por fornecer álcool a um menor, que é uma contravenção.

No dia em que Michael Jackson foi julgando “inocente” quatorze vezes. Muitas pessoas estavam chorando em silencio no tribunal. Houve uma onda de choque que bateu todo mundo e o pessoal da mídia que esperava um veredito de culpado parecia estar em um estado de incredulidade, de queixos caídos.
Depois que Jackson e a família dele deixaram o recinto, depois que o público espectador saiu em ordem, a mídia saiu e viu o mundo por uma nova perspectiva. Os fãs estavam exalando alegria e amor, abraçando e beijando uns aos outros e pulando. O mundo parecia colorido, com banners e buzinando, com centenas de pessoas dançando nas ruas.
Quanto à mídia, muitos dela tinham previsto um veredito de culpado, as pessoas perceberam que eles tinham gastado meses reportando apenas um lado da estória e tiveram que admitir que eles estavam errados.
Assim que a ordem de mordaça foi retirada, a mídia quis escutar o júri, e uma pequena conferencia de imprensa foi realizada no tribunal de Santa Maria.
Identificados apenas por números, o júri, entre a idade de vinte nove a setenta anos, tinham testemunhado um julgamento cheio de testemunhos obscenos, momentos dramáticos e abundância de celebridades. Quando as oito mulheres e quatro homens falaram com os repórteres, eles tentaram explicar por que eles consideram Michael Jackson “inocente” de todas as acusações.
Eles responderam incontáveis perguntas, muitas sobre o status de superstar de Jackson afetar o julgamento deles, o que apareceu insultá-los. Os jurados insistiram que eles não tinham tratado Jackson diferentemente porque ele é uma celebridade, dizendo que eles gastaram muito tempo estudando seriamente as evidências e olhando os testemunhos. Eles disseram à mídia que nenhuma peça de evidência superou nenhuma outra, alegando que eles consideraram todas as evidências igualmente “importantes”. Porém, o primeiro jurado Paul Rodriguez, mais tarde, confidenciou que a confissão de Gavin para a polícia foi crítica, dizendo que os jurados a assistiram inúmeras vezes.
Alguns jurados admitiram publicamente que eles consideraram a família Arvizo ser com artistas, que estavam tentando armar contra Michael Jackson. Outros sentiam que não havia prova cabal, que a promotoria simplesmente não tinha provado o caso deles. Ainda, a promotoria, sem evidências físicas, tinha sido capaz de humilhar Jackson publicamente, eles tiveram sucesso em fazer piadas com a pele dele, a sexualidade dele e o estilo de vida dele, tudo enquanto apresentavam um monte de evidências desprezível e falsos testemunhos.
Depois da conferência de imprensa, os jurados forma seguidos aos carros deles, cercados pela mídia que estava oferecendo transporte em limusines e passagens de avião para New York, implorando para que eles aparecessem em populares talk shows pela manhã. Mas a maioria dos jurados não estava interessada. Eles estavam exaustos e sobrecarregados e eles apenas queriam ir para casa. Os jurados tinham passado muitas noites sem dormir, ponderando o caso e eles pareciam não querer nada mais com o espetáculo público.
Mas dois meses depois, dois jurados rastejaram para fora da toca para tentar vender os próprios livros. Esperando por acordos de livros, eles apareceram na rede MSNBC e ambos os jurados publicamente afirmaram que eles se sentiram forçados a votar o veredito “inocente”, colocando uma nuvem negra sobre a veracidade do sistema do júri.
Telespectadores consideraram ultrajante que aqueles cidadãos americanos, que tinham prometido servir o país deles, tiveram audácia de vir à televisão alegar que eles foram forçados. As pessoas consideraram isso ofensivo que jurados estivessem tentando ganhar dinheiro em cima de Jackson, não dizendo a verdade, mas manchando o sistema de justiça americano.
O primeiro jurado, Rodriguez, mais tarde insistiria que as duas versões isoladas dos dois jurados sobre os eventos não era acurada. Rodriguez deixou claro que ninguém torceu os braços de ninguém, que atrás das portas fechadas cada membro do júri agiu de mente clara e chegaram ao veredito de “inocente” de livre vontade.
Dentro do tribunal, alguns membros da mídia fizeram tentativas de mascarar a surpresa deles sobre o desfecho do caso. Muitos repórteres não podiam acreditar que os vereditos eram verdadeiros, que Jackson era um homem livre e tinha escapulido do escrutínio público. É claro, na maior parte, a mídia ainda queria relatar sujeira e já estavam especulando que Jackson estava deixando o país.
Quando Tom Mesereau e o time dele saíram do tribunal, vitoriosos, eles inicialmente se recusaram a dar uma conferência de imprensa. Contudo, na manhã seguinte, Tom Mesereau concordou em aparecer em todos os três programas matutinos de TV, dizendo aos telespectadores que não havia nenhuma falsidade no caso da defesa, afirmando que havia “muita falsidade” no caso da promotoria. Naquela mesma noite, Mesereau daria uma entrevista a Larry King Live, oferecendo os pensamentos dele sobre o julgamento por uma hora inteira.
Mesereau apareceria mais tarde no The Tonight Show, dizendo a Jay Leno, “Se Você conhece a filosofia de vida de Michael, você sabe que ele nunca machucou uma criança.” Não muito depois do fim do julgamento, Mesereau foi aclamado como “uma das mais fascinantes pessoas do mundo” e ele gravou um segmento do prime-time com Barbara Walters, insistindo que o caso contra Jackson “foi construídos sobre a areia”.
Depois que tudo estava feito, depois das lágrimas, a alegria, as orações, e do adeus do público a Jackson, uma jornalista estudaria um obscuro elemento de uma exibição introduzida como evidência. Era uma nota escrita pelo superstar, gravado dentro de um dos livros dele. E foi esta gravação permanente, que capturaria para sempre a essência de Michael Jackson. No livro, o supertar tinha escrito as palavras:

“Olhe para o verdadeiro espírito de alegria e felicidade no rosto destes meninos, esse é o espírito da meninice, Uma vida que eu nunca tive e com a qual eu sempre sonharei.”

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Casos de Falsas Acusações de Abuso Sexual, parte VI "Martinsville"

Marteisville



O fenômeno não se circunscreveu aos Estados Unidos, onde tudo pode acontecer; o Canadá não escapou ao fenômeno. Na cidadezinha de Martensville, perto de Saskatoon, na Província de Saskatchewan, uma menina de 2 anos e meio, que ia à creche da família Sterling, apareceu em setembro de 1991, com uma irritação na pele, certamente produzida por fraldas molhadas. A mãe da criança, influenciada pelo ambiente de caça ao pedófilo, suspeitou de abusos sexuais e avisou a Polícia, que encarregou a agente Claudia Bryden de interrogar todas as crianças da creche. Esta foi ajudada pelo agente Jim Elstad, com alguma experiência nestes casos, e por vários terapeutas [25].
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Casos de Falsas Acusações de Abuso Sexual, parte V " Wenatchee"


Wenatchee

 

 

 

A cidadezinha de Wenatchee, no Estado de Washington, tinha, em 1992, cerca de 58.000 habitantes, que gozavam de uma existência calma e sem grandes problemas. Até que rebentou um escândalo de abuso sexual de crianças, que a transformou numa espécie de capital americana da pedofilia.

Tudo começou quando uma menina de 9 anos, chamada Ann, a filha mais nova de um casal pobre e mentalmente deficiente (Harold e Idella Everett), começou a dizer que tinha sido abusada por dois miúdos na escola. O Serviço de Proteção das Crianças tomou conta do assunto, e começou por verificar que não havia sinais físicos de abuso. Em vez de arquivar o caso, dirigiu as suspeitas sobre os pais da criança, que poderiam ter abusado dela em casa. Ann negou que tal tivesse acontecido, e foi entregue aos pais, com a condição de ser levada a sessões de terapia do Serviço, acompanhada das duas irmãs e de dois irmãos gêmeos.

 

Depois de um ano de terapia, as crianças estavam já prontas a "revelar" que tinham sido maltratadas pelos pais. As duas filhas mais velhas, Melinda, de 10 anos, e Donna, de 18, foram entregues aos cuidados do detetive Robert Perez, da polícia local, em cuja casa passaram a viver. E quem era ele?

Robert Perez não foi um adolescente modelar; tinha até cadastro por roubo. Aos 18 anos, em 1971, afastou-se da casa paterna, sendo recebido por um jovem casal de Wenatchee, Lenny e Rebecca Williams, que o tratou como a um filho - até que Lenny Williams o expulsou de casa ao descobrir que ele tinha relações ilícitas com a mulher. Cinco anos mais tarde, quando o casal Williams se divorciou, Perez reapareceu e casou com Rebecca algumas semanas depois. Aproveitou para convencer os meninos Williams a acompanhá-lo numa viagem ao Texas, onde os adotou, impedindo assim que o pai os recebesse e dando provas de um caráter menos que recomendável.

Apesar disso, fez-se policial, em 1983, mas a sua carreira não foi das melhores. Um supervisor repreendeu-o pela tendência que mostrava para controlar e manipular outras pessoas. Em 1989 foi assinalado como problemático: "Gosta de confrontação e gosta de ter poder sobre as pessoas [...] Tem a ideia de que as pessoas fazem sempre o que ele manda" [21]. Foi este policial que, tendo feito um curso apropriado, chamou a si a investigação de supostos abusos sexuais de crianças. E a sua carreira passou de medíocre a excepcional em pouco tempo.

Logo que o detetive Perez conquistou a confiança das meninas, levou-as a passear no carro pelas ruas da cidade, para que elas apontassem os lugares onde teriam sido abusadas e as pessoas que abusaram delas. Depois de alguma persuasão, as meninas cederam. Por coincidência, muitas das pessoas que apontaram frequentavam a Casa de Oração Pentecostal de Wenatchee Leste.

O ambicioso detetive Perez sabia o valor da publicidade. Apoiou-se na campanha antipedofílica para se autopromover como justiceiro das criancinhas, chegando a organizar um grupo de apoiadores a que chamou Brigada dos Laços de Púrpura, por usarem laços dessa cor nos casacos. Além disso, obteve o apoio de alguns políticos e da indústria de proteção de menores e, com base em alegações fantasiosas das meninas, iniciou uma "caça às bruxas", que levantou uma onda de histeria na população da cidade.

Os suspeitos eram geralmente pobres, tímidos e socialmente reservados; vulneráveis, portanto, às técnicas agressivas de interrogatório a que foram submetidos. E as "confissões" não se fizeram esperar, porque os arguidos, confrontados com polícias que se recusavam a aceitar explicações que não lhes agradassem, depressa compreenderam que só se acusando a si próprios e a outras pessoas podiam ter algum descanso. As confissões eram por vezes estranhas: rituais macabros na igreja pentecostal, em que as crianças eram violadas sobre o altar por homens vestidos de preto e com óculos escuros, enquanto se ouviam gritos entusiásticos de "Aleluia!"; orgias sexuais participadas por toda a congregação...

As técnicas que a Polícia usou podem deduzir-se das seguintes declarações de Sarah Marie Doggett, de 16 anos:

Ele [o polícia] sabia que o meu pai me tinha violado e porque é que eu não o admitia [...] Não, o meu pai nunca me violou, e eu disse que era virgem. Que me levasse ao médico, que me fizessem um exame físico. Isso seria prova. E ele disse, 'não precisamos fazer isso. Já sabemos a verdade' [...] Disseram que eu estava a ameaçar suicidar-me; e assim trouxeram uma maca, e imobilizaram-me, e ataram-me à maca, e puseram-me numa ambulância e levaram-me para Pine Crest, um hospital psiquiátrico em Idaho [22].

Sarah, a suposta vítima, ficou internada cinco semanas sob detenção. A intenção dos Serviços de Proteção das Crianças era certamente levá-la a "confessar", através de uma terapia adequada. Mas a porta-voz do Departamento de Serviços Sociais e de Saúde do Estado de Washington comentou, a propósito deste episódio: "Não me surpreenderia que algumas destas crianças precisassem de tratamento psiquiátrico, considerando a gravidade do abuso a que foram sujeitas". É evidente que uma pobre desculpa sempre era melhor do que admitir a verdade.

Os pais de Sarah, Mark e Carol Doggett, tinham sido acusados de molestar sexualmente os cinco filhos, o mais novo com apenas 8 anos. Os Serviços de Proteção das Crianças puseram de lado todas as considerações deontológicas para "persuadirem" as crianças a acusar os pais, com resultados evidentes: os Doggetts foram condenados a 10 anos e 10 meses de prisão cada um. Só mais de três anos depois se conseguiu a anulação das sentenças.

A imprensa, citando fontes da polícia, começou a falar numa "rede de pedofilia" a que chamavam "O Círculo", com umas duas dúzias de membros, que teriam abusado de cerca de 50 crianças. À medida que a "caça às bruxas" progredia, "O Círculo" passou a ter mais de uma centena de membros, que seriam alegadamente responsáveis por milhares de abusos.

De 1992 a 1995 foram presos 43 adultos, que foram acusados de 29.726 casos de abuso sexual de dúzias de crianças. 18 deles, levados a tribunal onde, por serem pobres, foram defendidos por advogados oficiosos, foram condenados. Outros tiveram mais sorte.

O pastor pentecostal Robert Roberson, de 50 anos, foi preso em abril de 1995, cinco dias depois de ter condenado a caça às bruxas num sermão, e acusado de quatro instâncias de violação e seis de abuso sexual de cinco crianças de 4 a 15 anos; a sua mulher Connie, de 45 anos, foi igualmente detida e acusada de duas instâncias de violação e cinco de abuso sexual de quatro crianças. Conseguiram um advogado de qualidade, Robert Van Siclen, que lhes alcançou a absolvição em 11 de Dezembro; mas não os pôde livrar de 135 dias de prisão e de enormes sofrimentos morais. Quanto às crianças supostamente abusadas, várias dezenas foram retiradas do seio das suas famílias; muitas foram enviadas para lares, e outras foram destinadas a adoção.

Houve quem denunciasse a caça ao pedófilo. Juana Vasquez, supervisora da assistência às crianças, exprimiu o seu cpticismo a respeito da investigação do detetive Perez; foi suspensa do seu cargo e mais tarde despedida [23]. O assistente social Paul Glassen discordou dos métodos do Serviço de Proteção das Crianças; foi acusado de interferir com as testemunhas e de obstrução da justiça, foi investigado pela polícia como suspeito de abuso sexual de menores, e viu-se obrigado a exilar-se no Canadá, com a sua família, para escapar à prisão preventiva.

Coisa semelhante aconteceu ao Delegado do Condado de Chelan, Earl Marcellus, quando revelou que uma das meninas ao cuidado de Perez lhe tinha confessado que as acusações que ela fizera eram inventadas. Um grupo de cidadãos tentou organizar-se para defender os inocentes, sob a orientação de Mario e Connie Fry; as suas casas foram vigiadas pela polícia, que tomou abertamente nota das matrículas dos seus carros; receberam cartas anônimas, ameaçando-os; desconhecidos lhes apedrejaram as janelas e atiraram ovos contra as paredes das casas; e, num caso isolado, um vidro de automóvel foi estilhaçado por um disparo de caçadeira.

Em 1995 a advogada oficiosa de defesa Kathryn Lyon, que se dedicou a estudar a fundo o caso, publicou The Wenatchee Report, em que denunciou inúmeros casos de abusos... mas do detective Robert Perez, que usou métodos ilegais de interrogatório e passou por cima de várias disposições processuais, e do Serviço de Proteção das Crianças local, que, segundo comentou mais tarde o funcionário do Departamento do Tesouro (e depois jornalista) Paul Craig Roberts, foi encorajado a encontrar o maior número possível de suspeitos de pedofilia pela necessidade que tinha de receber os subsídios federais que a Lei Mondale, de 1974, atribuía a campanhas semelhantes.

Para os funcionários do Serviço, a legislação vigente dava-lhes plenos poderes para "proteger as crianças", mesmo que fosse à custa dos direitos dos acusados e até das próprias crianças, que estavam supostamente a proteger. Num seu livro posterior, Kathryn Lyon descreve o que encontrou em documentos oficiais:

As crianças que não colaboravam com o Serviço eram ameaçadas com prisão; eram retiradas da escola, dos seus bairros e afastadas das igrejas e dos seus familiares; eram abusivamente medicadas com calmantes; eram forçadas a sofrer terapia de "memória recuperada"; eram internadas por períodos longos em instituições psiquiátricas, onde eram tratadas dia e noite por profissionais que acreditavam incondicionalmente que elas eram vítimas [24].

Não admira que as “confissões” tivessem proliferado.

A primeira reação ao Wenatchee Report veio das autoridades. Kathryn Lyon foi ameaçada de prisão, em 1996, se não revelasse as fontes de informação que usara - e isto apesar de, em junho do mesmo ano, a menina cuja queixa iniciara todo o processo ter negado que alguma vez tivesse sido abusada ou tivesse visto alguém ser abusado, e ter atribuído as suas "confissões" anteriores a pressões que Robert Perez exercera sobre ela. Por fim, triunfou a razão. Seguiram-se revisões dos processos, que se iniciaram em 1998 e terminaram, na maioria dos casos, pela absolvição dos condenados, e num ou noutro caso pela substituição da acusação de abuso sexual de menores por outra menos grave, como maus tratos físicos.

Finalmente, um júri do Condado de Spokane declarou, em 2001, que a cidade de Wenatchee e o Condado de Douglas, a que pertence, eram culpados de negligência em permitirem que uma investigação policial ficasse fora de controlo. E atribuiu 3 milhões de dólares de indenização a um casal que fora condenado injustamente. O casal Everett, que esteve na base da caça às bruxas e tinha ficado sem as cinco filhas, acabou por ser autorizado a receber quatro delas de volta; a quinta tinha sido adotada por uma família no Estado de Wisconsin e já tinha 19 anos, sendo, portanto, livre de decidir se queria ou não voltar para os pais.

Uma arguida, Doris Green, condenada a 23 anos por causa de uma "confissão" que a obrigaram a assinar e libertada em 17 de novembro de 1999, depois de quatro anos e meio de cadeia, processou, em março de 2001 a cidade de Wenatchee, Robert Perez (já aposentado da polícia), a sua mulher Luci Perez, o chefe da polícia do condado, Ken Badgley, e a equipe de acusadores do processo. Acusado de instabilidade mental, Perez alegou não poder comparecer às audiências por sofrer de stress pós-traumático e os interrogatórios fazerem-lhe reviver situações traumatizantes. Apesar de toda esta obstrução, Doris Green recebeu 177.500 dólares, em agosto de 2003, a que se acrescentou outra indenização de valor não divulgado.

A caça ao pedófilo tinha sofrido reveses, mas os seus executores podiam estar satisfeitos. Tinham cumprido grande parte da sua missão - e nem um chegou a ser processado, apesar de terem violado a lei inúmeras vezes. Se não se via um pedófilo, pensavam, era porque tinha fugido. Restavam apenas dezenas de famílias destroçadas, e dúzias de crianças abusadas pelas pessoas que supostamente as deviam defender, e que as traumatizaram brutalmente "para seu bem". Isto tem sido gradualmente reconhecido pelas próprias "vítimas": até novembro de 2003, pelo menos 14 crianças que foram coagidas a acusar inocentes processaram a cidade de Wenatchee.

[22] Transcrição de uma entrevista transmitida pela CNN no noticiário da manhã de 20.10.1995.

[23] Processou as autoridades e recebeu 1.570.000 dólares de indemnização em 1998, alguns meses antes do seu falecimento em 29.4.1999, com 48 anos.

[24] LYON, Kathryn - Witch hunt: A true story of social hysteria and abused justice. New York,NY, Avon Books, 1998.

Fonte:


 

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Casos de Falsas Acusações de Abuso Sexual, parte IV "Bakersfield"

Bakersfield



Um caso tristemente famoso passou-se em Bakersfield, no Condado de Kern, Califórnia, onde começou em 24 de setembro de 1984 o julgamento de John Stoll, carpinteiro de profissão, e três outras pessoas, acusadas de formarem uma "rede de pedofilia". Uma queixa sem fundamento da sua ex-mulher, relativa a um filho do casal, de 5 anos, foi transformada pela polícia num caso monstruoso de "rede de pedofilia", com vários arguidos, acusados de fazerem sexo oral e anal com inúmeras vítimas, a mais velha das quais tinha 9 anos.
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Casos de Falsas Acusações de Abuso Sexual, parte III "Little Rascals"



Little Rascals

 

 

A vila de Edenton, no Estado da Carolina do Norte, foi fundada em fins do Século XVII e é ainda hoje uma localidade pacata, com cerca de 6.000 habitantes, onde quase toda a gente se conhece. Foi ali que, em 1988, Bob e Elizabeth (Betsy) Kelly compraram uma antiga fábrica, renovaram-na e instalaram lá uma creche, a que chamaram Little Rascals (Pequenos Marotos). Graças aos seus esforços, a creche tornou-se em pouco tempo a mais prestigiosa da vila, para onde as famílias mais conceituadas mandavam os seus filhos. Mas naquele Inverno, uma mãe neurótica, Audrey Stever, contou a Brenda Toppin, investigadora da polícia local, que o filho dela, de três anos, se masturbava e lhe tinha dito que tinha "brincado de médicos" com um rapaz mais velho da vizinhança.

Bem, Brenda Toppin tinha acabado de frequentar um seminário sobre abuso sexual de menores e, inspirada pelo que aprendera, instruiu a mãe sobre como havia de interrogar o filho. Este não tardou a dizer que "o Sr. Bob" tinha "brincado de médico" com ele e com outros meninos. Toppin abriu imediatamente uma investigação e, em Janeiro de 1989, Bob Kelly foi informado de que tinha havido alegações de abuso sexual contra ele.

A sua reação foi de conversar pessoalmente com todos os pais das crianças que frequentavam a creche, a quem contou o que se passava - e a primeira reação dos pais foi de espanto e de solidariedade para com ele.

Mas esta atitude não servia à polícia e tinha que mudar. E assim foi. À medida que a investigação continuava, alguns pais começaram a duvidar dos Kellys e acabaram por se convencer de que os filhos tinham realmente sido abusados. Estes, por conselho da polícia e do Ministério Público, começaram a ser "trabalhados" por psicólogos e terapeutas.

Alarmado, Bob Kelly contratou um advogado de grande prestígio na comunidade, Chris Bean, de quem era amigo e cujo filho frequentava a creche. A primeira reação dos vizinhos foi deixarem de falar com o advogado e a esposa dele. Até que, em fins de abril de 1989, pouco antes da primeira sessão de instrução do processo, o Procurador do Ministério Público, H. P. Williams, confidenciou a Bean que alguns meninos tinham dito que o seu filho estava entre as crianças abusadas. O pequeno negou tudo, mas Bean desistiu da defesa e passou para o lado da acusação, o que causou grande impacto entre as famílias da vila: se o advogado procedeu assim, diziam, é porque havia certamente algo de errado na creche.

Bob Kelly foi preso nesta altura, e a creche foi encerrada no dia 28 de abril. Em Maio, o número de crianças sujeitas à terapia cresceu assustadoramente: cada uma nomeava outras, que por sua vez nomeavam outras, e assim por diante. 90 crianças, praticamente todas as que frequentavam a creche, foram submetidas à terapia, e foi perante os terapeutas que fizeram as primeiras alegações de abuso - o que sempre tinham negado quando os pais e a polícia os interrogaram.

Começaram as detenções: Betsy Kelly em setembro, seguida de mais cinco pessoas que trabalhavam na creche. Os detidos foram acusados no verão de 1990 de 429 instâncias de abuso sexual de 29 crianças, que incluíam sodomia, violação, urinar e defecar em frente das crianças, fazer sexo em frente das crianças e obrigá-las a imitá-los, e assim por diante. Os abusos teriam sido fotografados por Darlene Harris, ex-mulher de um polícial, que nem sequer estava ligada à creche, mas que foi "identificada" por uma fotografia mostrada às crianças.

Por esta altura, havia um ambiente de terror em Edenton. Qualquer pessoa que tivesse trabalhado na creche era suspeita; houve pais que exigiram à polícia que fossem todas presas. As crianças tinham nomeado vinte pessoas, e só sete foram detidas; não seria isto indicação de uma tentativa de encobrimento por parte das autoridades?

Betty Ann Phillips, cujo filho, segundo a terapeuta que o atendera, teria sido abusado, começou a ter sérias dúvidas sobre a veracidade do que a criança estava a ser obrigada a dizer; e quando os Kellys foram formalmente acusados e ela soube que não tinha sido consultada, embora uma das acusações se referisse ao seu filho, foi protestar junto do Procurador Williams, que a avisou, com toda calma, que se calasse, porque muitas das crianças teriam confessado que Betty Ann costumava ficar "de sentinela" enquanto os Kellys abusavam do filho dela.

O Tribunal decidiu julgar os arguidos separadamente, começando por Bob Kelly. E ficou mais que evidente que não havia provas contra eles. Ninguém tinha visto qualquer abuso; nenhuma das crianças se tinha queixado de algum abuso antes de serem apertadas por polícias e terapeutas; não havia provas materiais de abuso. Nem sequer havia gravações ou notas manuscritas dos interrogatórios; Brenda Toppin confessou que tinha destruído ou perdido tudo.

Os terapeutas não tinham mais do que apontamentos sumários das entrevistas com as crianças, escritos mais tarde.

Os pais das alegadas vítimas declararam que estas tinham comportamentos que indicavam terem sido abusadas: enurese, pesadelos, medo de ir sozinhas ao banheiro e assim por diante. Mas estes supostos indicadores de abuso só apareceram depois dos interrogatórios e não enquanto as crianças frequentavam a creche.

E as crianças? Apesar de terem sido cuidadosamente ensaiadas pelo Ministério Público, que chegou a organizar um "teatrinho" para as habituar ao ambiente do Tribunal, e de terem sido mandadas jurar sobre a Bíblia dizer "a verdade, toda a verdade e nada mais que a verdade", apesar da sua tenra idade, contaram um sem-número de disparates: que os Kellys as tinham levado de balão ao espaço exterior, onde matavam bebês, que os levavam a passear de barco para os atirarem pela borda fora, com tubarões amestrados na água, que tinham um aquário gigante cheio de tubarões, que penduraram um bebê de uma árvore pelos pés, antes de lhe deitarem fogo, e que matavam leões e os transformavam em tapetes.

Mas isto não chegou para convencer o júri de que o processo era um absurdo total; depois de terem deliberado durante três meses, fazendo do processo o mais caro da história da Carolina do Norte, consideraram Bob Kelly culpado de 99 das 100 instâncias de abuso sexual. O pobre homem, apesar de inocente, foi condenado, 12 vezes consecutivas, a prisão perpétua.

Entretanto, vários membros do júri, entrevistados para um programa de televisão, admitiram pressões exteriores e diversas irregularidades. Com base nestas declarações, os advogados de Bob Kelly pediram em novembro de 1993 a anulação do julgamento, o que lhes foi recusado.

Os outros julgamentos foram semelhantes, mas um merece ser comentado, para demonstrar como até o Ministério Público estava consciente da fragilidade do caso: ofereceu a Kathryn Dawn Wilson uma sentença de um ano ou dois de prisão se confessasse várias das acusações; tendo rejeitado a oferta, assim como outra de ser apenas condenada a meses de prisão, por ser inocente, foi condenada a prisão perpétua.

Depois de dois anos de cadeia, Betsy Kelly estava prestes a ceder, e ainda por cima tinha uma filha pequena para sustentar. Aceitou não contestar a acusação (embora não se considerasse culpada), e foi libertada um ano e pouco depois. Tornou então a ver a filha, que já tinha 10 anos; mas, seis meses depois, a sentença de Bob Kelly foi anulada por irregularidades processuais e ele voltou para casa - para tratar do divórcio, que foi consumado em outubro de 1995.

Por esta altura, três dos detidos foram libertados por anulação das acusações, um quarto aceitou não contestar a acusação e foi libertado, e a sentença de Kathryn Dawn Wilson foi anulada. Mas não foi o fim do pesadelo para Bob Kelly: embora a sua sentença tivesse sido definitivamente anulada em maio de 1997, o Ministério Público anunciou que iria processá-lo por alegações de abuso que datavam de 1987 e não estavam relacionadas com as anteriores. Depois de uma intensa e dispendiosíssima batalha legal, Kelly foi deixado em paz em setembro de 1999 - dez anos e oito meses depois da primeira acusação.

E nunca recebeu as desculpas do sistema judicial.

 

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