Casos de Falsas Acusações de Abuso Sexual, parte VI "Martinsville"
Marteisville
O fenômeno não se circunscreveu aos Estados Unidos, onde tudo pode acontecer; o Canadá não escapou ao fenômeno. Na cidadezinha de Martensville, perto de Saskatoon, na Província de Saskatchewan, uma menina de 2 anos e meio, que ia à creche da família Sterling, apareceu em setembro de 1991, com uma irritação na pele, certamente produzida por fraldas molhadas. A mãe da criança, influenciada pelo ambiente de caça ao pedófilo, suspeitou de abusos sexuais e avisou a Polícia, que encarregou a agente Claudia Bryden de interrogar todas as crianças da creche. Esta foi ajudada pelo agente Jim Elstad, com alguma experiência nestes casos, e por vários terapeutas [25].
Os resultados não se fizeram esperar. As crianças "confessaram" que eram levadas de carro para a "igreja do Diabo", fora da cidade, onde eram obrigadas a comer fezes e a beber urina, e eram abusadas depois de se submeterem ao uso de um vibrador a pilhas, pintado com as cores da bandeira americana. Não faltavam alegações de mutilação de animais e de assassínios. Um dos abusadores teria chegado a cortar um seio de uma criança e a comê-lo (não se encontraram sinais de mutilação em nenhuma criança). Um menino teria sido sodomizado com o cabo de uma picareta, mas não mostrava quaisquer sinais de violação.
O chefe da polícia local ficou tão alarmado com o pretenso satanismo na sua área que, em abril, armou os seus agentes com espingardas automáticas, dizendo-lhes que constava que a cidade estava para ser atacada por um grupo de satanistas, que iriam raptar e assassinar as crianças que encontrassem [26]!
Ron e Linda Sterling, responsáveis pela creche, o seu filho Travis, guarda prisional, uma mulher menor e cinco outros homens, todos eles policiais, suspeitos de formarem uma "rede de pedofilia" satânica, foram acusados de 190 instâncias de abusos físicos e sexuais contra duas dúzias de crianças na creche. Um dos arguidos, John Popowich, estava tão claramente inocente que os agentes da polícia de Montada, pensando que tinha sido acusado por engano, quiseram que fosse submetido a um teste de polígrafo. O Ministério Público recusou, porque isso podia fragilizar a acusação [27]!
Depois de dois anos e meio de investigações e de três meses em tribunal, sete dos nove arguidos foram absolvidos por falta de provas; só foram condenados Travis Sterling e a moça, que, por ser menor, não foi nomeada na imprensa. Os condenados vieram mais tarde a ser ilibados, quando as autoridades judiciais reconheceram o que qualquer pessoa normal teria visto desde o início: os depoimentos das crianças, todos eles fantasias disparatadas, não tinham qualquer valor. Os arguidos do processo, arruinados profissional e financeiramente, processaram as autoridades locais e provinciais, exigindo indenizações adequadas aos danos sofridos.
Por sentença de 15 de novembro de 2004, Ron e Linda Sterling, que ficaram reduzidos à indigência, receberam 925.000 dólares - dos quais 735.000, quantia absurda, foram para o advogado de defesa; os outros queixosos ficaram de receber 460.000 dólares em março de 2006. Em meados desse ano, Ron Sterling, então a trabalhar como motorista de táxi, exigiu uma reabilitação pública e um inquérito ao caso de Martensville, que o Governo recusou com o pretexto de que seria muito dispendioso.
Ainda hoje há quem acredite em Martensville nas atividades da "rede de pedofilia" satânica que nunca existiu. Até há um Comitê Contra o Abuso Ritual de Crianças, dirigido por um padre e duas feministas. Não aprenderam nada.
Alguns dos casos Americanos aqui foram investigados pela jornalista Dorothy Robinowitz vencedora do Prémio Pulitzer, o mais conceituado prêmio norte-americano de jornalismo.
Aqui ficam as capas da versão americana e portuguesa dos livro dela. A edição portuguesa é da editora Quetzal.
Fonte:
[25] Seis meses mais tarde, Elstad foi detido sob a acusação de abusos sexuais de crianças. O processo foi arquivado quase na véspera do seu julgamento.
[26] Até os chefes da Polícia de Martensville tiveram pouca sorte; dois deles foram mesmo suspeitos de abusos sexuais de crianças. Darryl Ford foi acusado em 6.3.1992, mas o processo foi suspenso quando o casal Sterling foi ilibado; foi obrigado a mudar de localidade e a arranjar outro emprego. Ed Revesz foi detido em 6.1992; o processo foi arquivado em 1994, antes de ir a julgamento; mas Revesz, arruinado pela sua defesa, viu-se forçado a trabalhar como camionista de longo curso, situação que os 175.000 dólares de indemnização que recebeu não chegaram para alterar.
[27] Cf. www.injusticebusters.com/06/Martensville2006.shtml - Popowich veio a receber 1,3 milhões de dólares e um pedido de desculpas por escrito do então Ministro da Justiça, que ele exigira como condição de aceitar a indemnização. Pelos vistos, segue-se o mesmo princípio em Portugal, onde, segundo a psicóloga Elizabeth Loftus, da University of California, "foram presas muitas pessoas a partir de investigações muito superficiais" (24 Horas, 6.1.2004, p. 6). Esta psicóloga de renome mundial veio a Portugal em 1.2004 para uma conferência na Universidade Lusófona, e a defesa de um dos arguidos do processo da Casa Pia requereu ao Juiz de instrução que ela fosse ouvida; este indeferiu o requerimento, sem explicar porquê (Correio da Manhã, 10.1.2004, p. 4), mas certamente para não fragilizar a acusação.
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